quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

AS MINHAS AVENTURAS NO JORNAL EXPRESSO - I

 No 49º aniversário do Semanário Expresso (nasceu a 6 de Janeiro de 1973):

Quando entrei no Semanário Expresso no dia 27 de Junho de 1988, na velhinha sede da Rua Duque de Palmela, em Lisboa, logo me apercebi que havia dois Expressos e não um: o Expresso de Vicente Jorge Silva, que englobava a revista e a cultura, com o cinema, teatro, livros, exposições, etc, e o restante Expresso, de José António Saraiva, que se distribuía pelo 3º andar. A Revista estava instalada no forno que era o sótão, há pouco tempo ocupado, e onde o ar condicionado da extinta FNAC (não tem nada a ver com a FNAC dos livros e discos) ou funcionava mal ou não funcionava. Ali ficava o gabinete do Vicente e do Nuno Pacheco, este o executivo da revista e que andava sempre a falar sozinho nos corredores. Ao fundo do corredor, que era acedido por uma escada de caracol, ficava uma salinha muito pequenina onde estavam instalados os copydesks da revista, a Paula Moura Pinheiro (desde há muitos anos na RTP) e o Torcato Sepúlveda (marido da Felícia Cabrita, a qual apareceria no jornal uns tempos mais tarde). Nas primeiras salas ficava a parte da cultura, o editor Alexandre Pomar, a Clara Ferreira Alves, depois também o José Mendes. Também havia espaço para a dactilógrafa (sim, dactilógrafa, pois muitos colaboradores entregavam os textos em papel, impressos ou mesmo manuscritos). No outro lado do sótão, os gráficos e a montagem, mais tarde substituídos pela fotografia, de Rui Ochôa, o qual também comunicava aos berros. O que mais me marcou nos primeiros tempos foram os gritos do Vicente Jorge Silva (recordar que ele era bem surdo!), e como toda a gente lhe respondia aos gritos, às vezes parecia quase uma sinfonia a gritaria. Eu não sabia que um semanário fosse assim, pensei que só os diários, como via nos filmes e nas séries televisivas. Poucos dias depois, 'assisti' em directo à morte do Carlos Paião e ao incêndio do Chiado, pelo rádio de pilhas do Rodolfo, um dos funcionários da parte da montagem. Nessa altura, o Expresso crescia de semana para semana, quase todos os dias entrava gente nova, desde secretárias a jornalistas, a maior parte a recibos verdes. A concorrência não assustava, apesar de se chamar 'Independente' e 'Semanário'. O que assustou Balsemão foi o que se passou num dia nos primeiros meses de 1989: a recém-licenciada TSF, em especial pela voz do meu antigo colega João Paulo Baltazar, noticiou em parangonas radiofónicas e a cada minuto a saída de sete jornalistas do Expresso para fundar um novo jornal (que um ano mais tarde seria o Público). Eram eles, o Vicente, o Nuno Pacheco, o José Manuel Fernandes, o Joaquim Fidalgo... (falha-me a memória para os outros três), aos quais se juntaria o Torcato, algumas secretárias, gráficos, etc. Acabavam-se os gritos no velhinho sótão da Duque de Palmela, e nascia um pânico em Balsemão (pensando que iria ficar sem jornalistas), o qual, quase de um dia para o outro, aumentou o ordenado dos que ficaram para o dobro (o nº 2 da cultura ganhava 90 contos, passou a ganhar 180 contos limpos, por exemplo)... infelizmente, a mim não me tocou nada dessa vez! Assim, e a partir de 1989, o Expresso não só fazia opinião, como política, economia e uma revista em formato grande, como serviu de bitola aos salários na comunicação social, os quais dispararam... para alguns! Mas isso são histórias para a próxima aventura no Expresso... (jag)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

NO DIA DO ANIVERSÁRIO DE JÚLIO ISIDRO

Corria o Verão de 1975. Para nós, mais novos, a perspectiva de umas férias de quatro meses ou mais era uma grande notícia. Os adultos homens tinham deixado de falar de futebol e passaram só a falar de política. Tios e vizinhos por vezes exaltavam-se a falar dos Vascos Gonçalves, Spínolas e afins, e muitas vezes os mais moderados tinham de intervir para evitar conflitos mais problemáticos. As mulheres tinham encontrado um novo tema de conversa: uma coisa vinda do outro lado do Atlântico, que dava pelo nome de Gabriela e que prendia as famílias à televisão ao serão. Mas as mulheres também começavam a mandar algumas alfinetadas políticas. 

Além da Gabriela, do senhor Mundinho e do Bataclã, a televisão pouco mais diversidade tinha, pelo que os mais novos preferiam ir à praia ou brincar na rua. A Rádio era naqueles tempos uma boa companhia. Passava muita música actual e uma boa quantidade de música portuguesa. Durante uns tempos tomei nota de todas as canções que ouvia no radiozinho de pilhas que andava sempre comigo e o "Somos Livres" da Ermelinda Duarte batia toda a concorrência. A seguir vinha a segunda classificada do Festival da Canção desse ano, "A boca do lobo" de Carlos Cavalheiro. Depois, os nomes mais sonantes da música portuguesa do antes, durante e depois do 25 de Abril de 1974: Tonicha, Paulo de Carvalho, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Duarte Mendes, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Paco Bandeira, José Cid... enquanto os fadistas - em especial Amália - desapareceram da rádio, excepção feita a Carlos do Carmo, que afinal não era só fadista pois também interpretava canções de intervenção. Ary dos Santos era transversal a quase toda esta gente talentosa. Na altura praticamente não se ouvia Sérgio Godinho e Jorge Palma era desconhecidíssimo. 

Na Rádio havia um nome que começava a ficar no ouvido de todos, começando a rivalizar com o nome de Matos Maia: Júlio Isidro. Nesse Verão - quente em todos os aspectos - de 1975 ele tinha um programa para onde os ouvintes podiam enviar cartas. Ele lia algumas, ou pelo menos algumas frases de algumas cartas. Um dia, estava a miudagem toda dentro do carrito do meu pai a caminho da praia quando comecei a ouvir no rádio algo que me era familiar: o texto que eu tinha enviado dentro de uma carta para o programa matinal do Júlio Isidro (não me lembro do nome do programa) estava a ser lido pelo próprio, ilustrado com música de fundo, o que não era habitual com outras leituras. Fiquei inchado. Não me lembro do que escrevi nesse texto mas deve ter sido algo apelando à paz e à concórdia entre as pessoas, já que a altura era conturbada.

Júlio Isidro passou a fazer parte do meu mundo radiofónico e mais tarde televisivo. Em 1983 estive num Festa é Festa e consegui um autógrafo (ver foto). Sempre com uma admiração enorme, só voltei a cruzar-me com Júlio Isidro em 2007 (ver foto) num jantar do aniversário de um partido político onde eu estive em trabalho. De resto, nestas décadas todas nunca perdi o rasto a Júlio Isidro, desde os seus programas (talvez dos melhores da TV portuguesa) na RTP Memória até à actual parceria aos Sábados de manhã na Rádio Renascença, com Paulino Coelho. Duvido que em Portugal haja alguém com tanta cultura e memória musical como Júlio Isidro. Parabéns para um dos portugueses mais talentosos de sempre.

(jag)



 

sábado, 1 de janeiro de 2022

CARLOS DO CARMO, UM ANO DEPOIS DA SUA MORTE

Conheci pessoalmente Carlos do Carmo num pequeno concerto no auditório da Rádio Renascença, em 2006. No fim da actuação ele veio falar com algumas pessoas do público e eu arranjei coragem para lhe dizer e agradecer a influência positiva que ele teve na minha vida. Ao seu ar de espanto, eu expliquei que a sua Voz tinha sido minha companhia durante muitas horas e muitos dias, em especial nos idos de 70. Carlos do Carmo não era homem de mostrar emoções mas da maneira como depois ele é que me agradeceu notei que ficou pelo menos admirado. Voltei a cruzar-me com ele uns anos mais tarde no lançamento de um livro de um antigo colega meu no Expresso, José Manuel Saraiva, e ganhei o dia e o mês quando ao cumprimentá-lo ele atirou "então, ainda não se cansou de me ouvir?". Rimos. 

Aos muitos espectáculos a que fui (um deles no Coliseu de Lisboa, com a minha mãe) tornaram Carlos do Carmo o cantor que eu mais vezes vi ao vivo até 2014-15 (agora Jorge Palma e Sérgio Godinho ganhariam, até porque Carlos do Carmo começou a dar pouquíssimos concertos por ano por motivos de saúde). Voltei a cruzar-me com ele no lançamento de um livro de outro antigo colega meu do Expresso, António Costa Santos, sobre Herman José (ele esteve na mesa e foi um dos que apresentou o livro). 

Em Novembro de 2019 fui (tinha de ir) ao último concerto de Carlos do Carmo, no Coliseu de Lisboa... e o dia 1 de Janeiro de 2021 foi um um dia muito triste...

Entre vinis, e especialmente CDs, tenho dezenas de discos de Carlos do Carmo (devo ter toda a sua discografia). Jamais conseguiria destacar a minha canção favorita na voz da Voz. Gosto de ouvir as menos conhecidas. Mas tendo de escolher uma, aqui fica "Dizer que sim à Vida", com letra de Ary dos Santos.

(https://www.youtube.com/watch?v=bgsZISgm5P8 - "Dizer que sim à Vida" - Ary dos Santos/Fernando Tordo)


OBRIGADO, CARLOS DO CARMO 






sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

CARLOS DO CARMO - 'Dizer que sim à Vida'


 Com convidados no Coliseu dos Recreios em Lisboa - 2014


No Coliseu dos Recreios em Lisboa - 2014


No CCB em Lisboa - 2013


Com Orquestra Jazz no Seixal - 2009


Com Count Basie Orchestra no Pavilhão Atlântico - 2010



No Mosteiro dos Jerónimos - 2013


Concerto dos 80 anos no Coliseu de Lisboa - 2019

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Vírus e afins ou a desinvenção da humanidade

A humanidade é terrível. Apesar das tropelias que faz a si própria e à casa onde habita, não desaparece, não se esfuma, não se auto-aniquila. Por aqui continua a deambular e a azucrinar os outros seres, as rochas e as águas.

Serve isto para fazer a introdução de que passam hoje seis meses sobre o despoletar da hecatombe que viria a massacrar Portugal - alguns dos países europeus já estavam a ser massacrados, e de que maneira, na altura. Passam também seis meses sobre a última conferência onde estive presencialmente, uma dissertação do professor Luís Ribeiro, que abordou a questão da água e da sua escassez, tendo eu ficado a saber que Portugal tem o maior aquífero de águas subterrâneas profundas da Europa, exactamente na tão badalada - agora por outros motivos - zona do Vale do Tejo, e que o Algarve nunca teve falta de água, apenas ela, a água, tem sido mal gerida.

Mas, voltando ao tal do vírus "que mudou as pessoas, logo, mudou o mundo", não se tem mostrado tão mortífero como se temia, mas tem uma particularidade que nem as guerras mundiais tiveram: é mesmo global (não sei se surgiu na Antártida!) e gosta de viajar de avião. Só assim se compreende que se tivesse disseminado por todo o mundo em menos de nada. E fosse fabricado e lançado ao vento das relações humanas, ou tivesse fugido de alguma gaiola laboratorial, a verdade é que já matou quase um milhão de pessoas, número, no entanto, idêntico aos números de vítimas de alguns conflitos armados recentes ou a decorrer, e deveras inferior aos números das ditas guerras mundiais ou até de algumas epidemias locais ou regionais.

O objectivo agora é controlar o "bicho" para a humanidade poder voltar ao "novo normal". E pensava eu, numa ingenuidade oposta à filosofia da minha profissão, que a partir do vírus as pessoas iriam "cair na real" e passar a ser mais afáveis, mais fraternas, mais conscientes, como se se passasse de uma espécie de Sodoma e Gomorra para um paraíso bíblico onde os leões seriam apenas ronronantes gatinhos gigantes.

Bom, acordei de um sono em que nem cheguei bem a adormecer para perceber (ou quiçá, confirmar) que a humanidade não aprendeu nada, são biliões de cabeças ocas que num exame a sério chumbaram na primeira pergunta sem direito sequer de ir à oral.

Mas, mesmo depois de controlado o "bicho" daqui a uns tempos, para gáudio de farmacêuticas e afins, não há garantias que outro vírus não dê à costa... fabricado ou "deixado" fugir das gaiolas laboratoriais e espalhado se calhar até à Lua ou a Marte. O nuclear está démodée, e se não for outro vírus, as "cabecinhas pensadoras" da humanidade inventarão outra qualquer ameaça , seja em forma de sementes de espécies invasoras seja online... e a continuar assim, o terceiro planeta a contar deste Sol suspirará de alívio quando os seus principais parasitas se aniquilarem a eles próprios...