Há cerca de 3 anos contei num dos meus blogues a História do Bernardo, que preconizava uma espécie de bulliyng, embora na altura ainda não se falasse nisso. O Bernardo foi meu colega de turma nos 10º e 11º anos, uma turma que por sinal viria a produzir muitos famosos - excepto a minha pessoa - que hoje são conhecidos na área da música, da medicina, das artes, e não só!
Nunca estive muito próximo do Bernardo, mas reconhecia nele um bom colega, discreto, pacato, um paz d'alma. Talvez por isso ele era a vítima de um grupo masculino dentro da própria turma: faziam-lhe tudo de mal, desde roubarem-lhe dinheiro, riscarem-lhe a roupa com canetas de feltro, cortarem-lhe pedaços de cabelo, estropiarem-lhe os livros... até lhe queimarem os cadernos de apontamentos nos intervalos das aulas em plena sala polivalente e no refeitório.
O Bernardo era achincalhado e humilhado quase todos os dias frente aos restantes colegas. Curiosamente ele não se revoltava, nem se queixava, apenas pedia em voz baixa para não lhe "fazerem isso"... afinal ele fazia parte do grupo que o maltratava. E eu nunca percebi porquê! Talvez pela necessidade de pertença a um grupo, não sei! Também nunca mais o vi desde que as aulas acabaram! Nem me lembro do apelido dele... talvez seja médico - ele era bom aluno, apesar de tudo - ou engenheiro...
O Bernardo era o elemento mais novo da turma, turma essa composta por um pouco mais de rapazes que raparigas. Nunca vi professores ou funcionários da escola inteirarem-se da situação, embora ela fosse bem visível. Quando postei a 'História do Bernardo' apareceram várias pessoas nos comentários e fora deles que me manifestaram conhecerem situações idênticas, inclusive com os próprios filhos. De uma dessas pessoas fiquei amigo e contente por o seu filho - que entretanto conheci pessoalmente - ter ultrapassado os maus momentos e ser hoje em dia um adolescente normalíssimo e um excelente estudante.
Vem isto tudo a propósito do jovem de 12 anos que se terá suicidado em Mirandela, vítima do tal bulliyng, notícia de primeira página nos últimos dias em Portugal. Que as escolas são dos locais mais violentos da sociedade actual já se sabia... agora que produzam desfechos destes é intolerável...
21 comentários:
"uma turma que por sinal viria a produzir muitos famosos - excepto a minha pessoa". Não posso concordar. Tu és famoso na blogosfera. Hehe...
Beijocas
Problema gravíssimo este da violência nas escolas, e que tem vindo a aumentar com o correr dos anos. Como enfrentar a situação? Como combatê-la?
Creio ser um problema digno de ser discutido a nível nacional para que todos, em conjunto, possamos encontrar as medidas certas para parar este crescendo...
A violência é um problema gravissimo que nos responsabiliza a todos; família, escola, sociedade.
Acho infame apontar o dedo só a um dos elementos.
Bom fim de semana.
Só sei dizer que os meninos hoje fazem o que querem e se os pais ou professores lhes chamam a atenção = é violência...!
E então não é violência perturbar as aulas não deixando os colegas estudarem e ouvir o professor..?
A nossa sociedade anda voltada do avesso. Até aqui respeitava-se a família e os professores, mas hoje avaliam-se os professores e os pais.
Os meninos só precisam da semanada.
Como não estudam, batem e perseguem os outros...........
Estou perfeitamente de acordo contigo: o que se passa ( e falo com conhecimento de causa) é que os "superiores" estão bem mais preocupados com os resultados do que com as "pessoas". Curiosamente ontem vi uma série alemã "O 5º mandamento" em que um dos problemas era esse e também envolvia o suicídio de um aluno. Os que deviam estar atentos aos alunos, às suas atitudes, sua integração, ou não...acabam por estar mais preocupados por que se cumprar o "timmings" e que se tenha uma boa "qualificação a nível nacional"...lamentavemente ...é isto.
Bj
BS
Antigamente, quando um Professor chamava um Pai à escola para relatar um comportamento menos adequado de seu filho, esse Pai saía da escola, de tal forma envergonhado, que fazia de tudo para que o seu filho não repetisse tal comportamento. O próprio filho sabia que "algo" ia "convencê-lo" a mudar de atitude. E hoje? O que acontece? O pai responde ao Professor que seu filho nunca faria tal coisa e, se fez, a culpa é do Professor que não soube "educá-lo"...
Deixa um peso no peito, um aperto na garganta...
:-(
Um beijo.
E os responsáveis continuam dizer "não vi, não ouvi, não sabia de nada". Mas se o jovem de Mirandela tivesse partido os dentes a algum dos outros, era um "Deus nos acuda".
Abraço
Começo a pensar para que servem as escolas?
Não servem para ensinar porque a maioria não quer aprender...
Geram falhados, professores frustrados, alunos carrascos, vítimas, gente cansada e desmotivada que acaba por não conseguir reagir nem fazer melhor, atulhada que está com papeis...
Consomem dinheiro em equipamento que uns tantos destroem porque sabem que não têm que pagar, os pais batem nos professores, ou os filhos, ou ambos...
Os pais não querem que os meninos saibam, na essência, querem é que eles tenham boas notas e que tenham um diploma...
Dêem-lhe os diplomas e fechem as escolas... assim como assim estamos a criar uma fornada de incompetentes, mal formados, sem carácter, sem regras nem sentimentos... Generalizando claro... e todos vão encontrar uma forma de dizer que não é bem assim, que esta é uma visão fundamentalista... mas peguem em todos os casos negativos da Escola, enquanto instituição e vejam se não será um pouco assim. Imaginem quem é que os pais podiam culpar pelos comportamento dos seus adorados é belos (bélicos)meninos...
Trago-te uma notícia que é uma excelente oportunidade para fazer belas fotos.
No dia 7 de Março, às 14h30, a Divisão de Educação e Sensibilização Ambiental da Câmara Municipal de Lisboa organiza um passeio ribeiro por Lisboa. O percurso de cerca de cinco quilómetros "destaca a importância da situação geográfica da cidade de Lisboa e a sua relação com o rio Tejo, desde a antiguidade até aos nossos dias", descrevem os organizadores.
"Durante o percurso, é possível a título facultativo, assistir ao filme “Lisbon Experience” e visitar o miradouro do Padrão dos Descobrimentos, opção que implica o pagamento de 2€ no local".
Ponto de encontro: Módulo LxAmbiente, no Jardim Vasco da Gama, em Belém.
A actividade realiza-se com um mínimo de cinco participantes e tem uma duração de três horas. Aconselha-se roupa e calçado confortável.
Contactos:
Telef: 21.817.02.04
Email: desa@cm-lisboa.pt
Bom fim de semana.
POde ser que depois deste caso as escolas e os pais estejam mais atentos a futuras situações.MUitas vezes é necessário acontecer algo de muito grave para que , quem de direito, possa agir de modo a evitar que outros casos apareçam.
E o mais grave é que, há muitos miúdos a quem os colegas tratam tal como ao miúdo de MIrandela. Pior ainda: segundo os psicólogos, quando há casos muito falados na comunicação social, logo outras pessoas fazem o mesmo. ESpero que nenhum outro jovem, nestes tempos mais próximos ponha termo à vida de igual modo.
E eu pergunto: não há vigilantes nos recreios nem nos corredores das escolas?
NInguém vê?
EStranhao. só que na hora da verdade ninguém quer assumir uma culpa.
bom fim de semana
É uma pena, sim, que a morte do Leandro tenha feito primeiras páginas; uma pena que só assim as pessoas falem [ou se calem, num silêncio tão incomodativo]; que se tentem agora apurar culpas; que se considerem as escolas os locais mais violentos da sociedade actual...
Sabes, Alexandre, desde os meus seis anos que 'estou' na escola... porque ainda acredito que vale a pena.
A desresponsabilização social deixa marcas, que passam para a escola, sem dúvida. Mas mais do que falar é preciso agir. No ano passado, a PSP foi à minha escola fazer uma acção sobre 'bullying', junto dos alunos do 8º ano. Numa das turmas, uma das miúdas era sistematicamente ofendida pelos colegas... violência verbal. Ora bem, depois das informações que recolheu dessa acção, a jovem apresentou queixa na PSP contra os seus colegas. Os pais e os 'agressores' foram chamados à esquadra e ouvidos. Foi-lhes explicado o que aconteceria, se a queixa continuasse o percurso normal... abreviando, hoje a lindinha continua na turma junto com esses colegas, convivem naturalmente, nunca mais foi alvo de insultos... e a queixa foi retirada. Se serve para algo, o exemplo? Talvez, não sei. Só sei que a minha lindinha por lá anda, feliz, a concluir o seu 9º ano.
Um beijo para o teu domingo, Alexandre.
gostei da maneira como colocas aqui o dedo na ferida, de um problema bem real.
parabens pela coragem.
um beij
Alexandre
É verdade o que contas. Sempre houve crianças que agrediam, humilhavam e maltratavam aqueles que por qualquer razão ou sem nenhuma, eram os "bobos da festa". A maior parte dessas situações, nós resolvíamos entre nós e dentro de nós. A maior parte das vezes, os episódios desvaneciam-se no tempo, os nossos pais quase nunca chegavam a ter disso, conhecimento.
Na altura, as crianças e jovens mais frágeis, eram estruturalmente mais fortes e com famílias mais securizantes, que os de hoje. Os "valentões", apesar de muitas vezes cruéis, não eram desprovidos de emoção e humanidade e tinham suportes familiares capazes de lhes proporcionarem maior contenção e responsabilização.
As coisas estão diferentes, hoje em dia, e se é verdade que as crianças devem continuar a gerir os conflitos com os seus pares, também é verdade que os pais e comunidade em geral, têm de estar mais atentos aos sinais de sofrimento físico e psicológico na infância, sem desvalorizar o que a criança sente, nem desresponsabilizá-la pelo que fez, ou mesmo deixou de fazer.
Somos todos responsáveis e por isso, sacudir a água do capote, não será nunca solução.
Um beijinho
Há situações que eu não consigo comentar. Esta é uma delas. Porque me faltam as palavras. Porque me dói o peito...
Beijinhos
O bullying sempre existiu. O ataque ao morcão sempre produziu vítimas. Em todas as turmas há sempre um morcão, o lider, o gordo e a chear leader. A questão é que hoje sabemos mais disto que antes e nada se faz, excepto verter umas lágrimas hipócritas quando um corajoso decide acabar com o seu sofrimento. A escola, essa, cada vez funciona menos. Qualquer dia voltamos aos perceptores.
É um caso terrível. Um entre muitos, este do Leandro.
Como educadora, e como mãe, não posso deixar de me sentir terrivelmente impressionada. Julgo, sinceramente, que este problema reflecte uma sociedade onde os valores estão cada vez mais ausentes.
Gostei de ler esta homenagem do Sofá Amarelo :)
CONCORDO CONTIGO...EU SENTI ISSO NA PELE...CHAMEM-LHE O QUE QUISEREM MAS OS MIÚDOS CONSEGUEM SER MAUZINHOS... ESTA MALDADE VEM DE ONDE? NÃO É DELES PRÓPRIOS,VEM DOS AMBIENTES DEGRADADOS E NÃO SÓ...NO SEIO DA FAMÍLIA EXISTE MUITA TIRANIA...MUITO JOGOS PERVERSOS, MUITA AGRESSÃO VERBAL E OS GAROTOS LEVAM ISSO PARA A ESCOLA... E ISSO REFLECTE-SE EM TUDO,NOS RESULTADOS ESCOLARES,NA FORMA DE AGIREM COM OS OUTROS...COLEGAS,FUNCIONÁRIOS,
PROFESSORES...ETC.
PENSO QUE A ESCOLA DEVE TER UMA VOZ MAIS INTERVENTIVA,MAIS ACTIVA E MENOS NEGLIGENTE...E NÃO PERMITIR QUE ESTE TIPO DE SITUAÇÕES ACONTEÇAM,É VERGONHOSO!!!E ACIMA DE TUDO MUITO TRISTE!!!
Uma história daquelas que revolta todo o nosso ser!
Olá Alex.
Como já foi dito por comentadores e comentadoras anteriores, estes acontecimentos fazem doer deveras!
Algo terá que ser feito, quanto mais não seja, porque agora aconteceu uma tragédia. Talvez ainda se esteja a tempo de evitar outras!
E aogfra o meu agradecimento.
OBRIGADA Alex, pela visita e pelas palavras lá em casa.
E quanto ao atraso, os Amigos chegam sempre a tempo.
Bjs.
Maria Mamede
É um desfecho tão perturbante que só nos pode obrigar a reflectir seriamente acerca da responsabilidade da sociedade nestas situações. E a sociedade somos todos nós, sem dúvida. Não posso deixar de afirmar que já conheci diversos problemas de falta de integração de alunos, com origem em motivos de vária ordem e que também já tive de procurar soluções para os mesmos. Já encontrei pais atentos e actuantes e outros que se limitaram a fazer exigências sem assumirem qualquer tipo de colaboração e de responsabilidade e, em certos casos, sem reconhecerem como erradas as atitudes dos próprios filhos. Nem sempre as medidas que tomamos surtem efeito, nem sempre podemos contar com a resposta atempada de outros parceiros, nem sempre a “autoridade” do professor, ou da escola, funciona como factor dissuasor dos comportamentos agressivos, sobretudo quando se pode continuar lá fora o que foi evitado dentro do recinto.
Mesmo assim, e apesar das dificuldades, é importante que não se acredite que todos os conflitos se resolvem naturalmente, ainda que os envolvidos digam: “Estamos só a brincar!”, e que haja uma atenção redobrada em relação a certos sinais e a certos “silêncios”. Mas estas são regras que são válidas dentro e fora da escola, e que dizem respeito a todos! Quando a sociedade deixar de se demitir do que se passa à sua volta, talvez diminua o número de pessoas que ultrapassam o limite do desespero, sejam crianças, mulheres agredidas, idosos abandonados…
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