Nem tudo o que Fernando Pessoa escreveu foi genialmente genial! Existe um outro lado de Fernando Pessoa mais banal, mais próximo de um versejador e mais longe do poeta e do profeta. Mas, sem dúvida, que Fernando Pessoa - hoje, que passam 123 anos sobre o seu nascimento - vale antes de mais pelo que consegue mexer com as pessoas de hoje, aquelas que se identificam com ele e que procuram os seus pensamentos e as suas ideias para orientarem a sua própria existência. Quem anda pelos blogues, sites e afins, e mesmo quem lê livros, prefácios, frequenta conferências, nota que há muitos que citam Fernando Pessoa porque a alma do poeta não tem morada certa e é intemporal! A seguir uma recolha ao acaso que fiz de escritos (alguns não chamarei poemas!) do português mais famoso do séc. XX.
Como inútil taça cheia / Que ninguém ergue da mesa / Transborda de dor alheia / Meu coração sem tristeza
Pálida sombra esvoaça / Como só fingindo ser / Por entre o vento que passa / E altas nuvens a correr
A criança que ri na rua / A música que vem ao acaso / A tela absurda, a estátua nua / A bondade que não tem prazo
Ameaçou chuva. E a negra / Nuvem passou sem mais... / Todo o meu ser se alegra / Em alegrias iguais
Como uma voz de fonte que cessasse / (E uns para os outros nossos vãos olhares / Se admiraram), p'ra além dos meus palmares / De sonho, a voz que do meu tédio nasce
As lentas nuvens fazem sono / O céu azul faz bom dormir / Bóio, num íntimo abandono / À tona de me não sentir
Meu ruído de alma cala / E aperto a mão no peito / Porque sob o efeito / Da arte que faz trejeito / O que é de Cristo fala
Brincava a criança / Com um carro de bois / Sentiu-se brincado / E disse, eu sou dois!
Vento que passas / Nos pinheirais / Quantas desgraças / Lembram teus ais
Talvez que seja a brisa / Que ronda o fim da estrada / Talvez seja o silêncio / Talvez não seja nada...
Amanhã, se estiver um dia igual / Mas se for outro, porque é amanhã / Terei outra verdade, universal / E será como esta