quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

GOSTO DE GATOS PORQUE OS GATOS OLHAM-ME NOS OLHOS
















Tivemos alguns gatos em casa dos meus pais. Poucos. Lembro-me da Menina e do Amarelo, ainda eu era pequeno. O Amarelo porque era mesmo amarelo e vislumbro-o a escorregar nos braços da minha irmã mais velha quando no-lo deram. A Menina era mais franzina e a ideia que tenho dela era vê-la nos ombros da minha Mãe quando esta passava a roupa a ferro com um ferro de ferro e que levava brasas lá dentro. A Menina ali se equilibrava e a minha Mãe na altura muito alta poucos movimentos fazia para não a perturbar. A não ser de vez em quando, quando ela tinha que reabastecer o ferro de brasas.

Não me lembro o que aconteceu com esses gatos (ver se pergunto à minha Mãe ou à minha irmã), quando alguns meses depois nos mudámos para a casa onde os meus pais ainda hoje estão. Os gatos devem ter ficado na quinta onde os meus avós estavam.
Não voltámos a ter gatos em casa nos 15 anos seguintes. Por lá apenas passaram periquitos, frangos, galinhas, gansos pequenos, coelhos e até uma gaivota que recuperámos de uma ferida numa asa quais ambientalistas dos anos 70 e soltámos mais tarde na maré, depois de ela fazer um estágio na banheira.

Mas, voltando aos gatos: nos idos de 80 tivemos uma gata (que antes de ser gata, pensávamos ser gato e demos-lhe o nome de Adonis) a quem acabaríamos por chamar Doninhas. A minha Mãe adorava fazer-lhe judiarias e a gata gostava de nos observar do alto dos móveis ou dos armários da cozinha, em especial quando havia visitas em casa.

Um dia, a minha Mãe que bordava para fora recebeu umas senhoras, acopladas com os respectivos filhos pequenos e que gostavam de puxar os rabos aos gatos. Enquanto as donas visitas faziam aquilo que mais gostavam, que era dar à língua, a gata deve ter levado um puxão de rabo ou sentido ciúmes com a miudagem, e vai daí abandonou a sua habitual serenidade, assanha-se e salta de debaixo de um divã em direcção a um dos miúdos, qual felino na selva a atacar a sua presa, quando a minha Mãe, entre dois ou três monossílabos para as donas visitas que não paravam de parlar, se meteu entre o miúdo e a gata. Resultado: a gata agarrou-se com quantas garras e dentes tinha ao braço direito da minha Mãe e só o largou depois de levar com o cavalo de baloiço de madeira da minha irmã mais nova. 

Quando cheguei a casa, vindo da escola, ainda cheguei a tempo de ver o corredor e os móveis ensanguentados como nas séries de televisão sobre crimes. Conclusão: a minha Mãe andou seis meses em tratamento na Misericórdia, a gata serenou e por ali ficou como se não fosse nada com ela, e um dia mais tarde foi levada para um terreno que os meus pais tinham em Azeitão. Não me lembro depois o que lhe aconteceu, e também não me apetece perguntar à minha Mãe

Nunca mais tivemos gatos em casa. Durante muitos anos, alimentámos dezenas deles no tal terreno, e não sei como é que o meu Pai tinha paciência para fazer 30 km dia sim dia não para levar tachadas de comida aos gatos, que na sua maioria eram selvagens, à excepção de um o Risquinhas que era um meloso e tinha uma empatia especial com o cão que lá tínhamos, o Romy.

E pronto! Agora, gatos, só os de rua (os da foto), que me observam sempre que passo por eles, que se fazem às fotografias e me olham nos olhos! Como eu gosto! Sejam gatos sejam Pessoas! Mas, se algum destes é mágico, são com certeza os gatos e talvez uma ou outra Pessoa

2 comentários:

Meg disse...

Alex, aqui sim, está-se bem...
Estou a inspirar-me para o regresso em breve.
Um abraço
Meg (Recalcitrante)

BC disse...

Pelos vistos a primeira leitora do Sofá Amarelo..."segunda edição".
Confortavelmente sentada no meu sofá cruo, olhando o crepitar do fogo na minha lareira.
Gostei do texto, óbvio, não sou daquelas que lê pela metade.
Boa sorte para a nova etapa.