quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"Oh, Senhora Ministra da Saúde, venha cá ver isto, vamos todos morrer com o vírus da Gripe A"

Este foi um apelo ouvido diversas vezes por alguém que aguardou (morreu aos poucos!) numa sala de espera de um Centro de Saúde (?) nos arredores da capital. Mas vou explicar melhor: aceso o rastilho das mortes em Portugal provocadas pelo vírus H1N1, o Sofá Amarelo levantou o rabo do... sofá (também pouco tempo lá está sentado!), mascarou-se de utente (cliente, como se diz agora) e foi até um Centro de Saúde (?) que serve uma população de 200 mil corpos e almas... sim, alguns serão só almas dentro em pouco, baseado naquilo que o Sofá Amarelo viu e ouviu... o choque foi tão grande que o Sofá ainda nem consegue articular as palavras escritas...

Logo à entrada a triagem de quem tinha ou não direito a máscara antes de entrar no Centro de Saúde era feito por - imagine-se! - um segurança!
- havia só uma médica no serviço, apesar de estarem outros escalados;
- no desabafo de um enfermeiro fiquei a saber que os médicos são geridos por uma empresa externa, não têm hierarquias, e tanto podem aparecer ao serviço como não aparecer (e nem avisam!), embora normalmente cheguem muito depois da hora de escala vindos das clínicas e dos hospitais privados onde, afinal, ganham a vida deles;
- na recepção havia apenas uma funcionária, incapaz de responder a todas as solicitações;
- às tantas chegou uma ambulância transportando um possível caso de Gripe A... muito alarido... irrompeu um paramédico com fato de astronauta a perguntar pelo médico responsável do Centro;
- como não havia médico responsável (até a única médica estava numa pausa!), o astronauta foi embora a caminho com certeza do hospital mais próximo;
- a médica no serviço era oriunda de um dos países africanos dos PALOP, tinha o seu sotaque, muita dificuldade em movimentar-se e quase adormecia nas consultas (talvez pelo cansaço!);
- a cada medicamento que prescrevia consultava um calhamaço - a Bíblia da Medicina - para ver que dose havia de receitar aos pacientes;
- de vez em quando formavam-se grupos de pessoas mais ou menos exaltadas mas a grande maioria permanecia em silêncio, a lembrar aqueles cenários de guerra, quando os judeus se escondiam nos bunkers à espera de alguma bomba que lhes rebentasse em cima; 
- eram cerca de 17 h da tarde quando saí do Centro de (falta) de saúde e ainda lá ficaram pessoas que estavam ali desde manhã; 
- quando vinha a sair, chegou uma família inteira de etnia cigana numa grande algazarra. Ainda hesitei em voltar para trás para completar a reportagem mas não: resolvi ir para casa ver o jogo do Sporting porque sabia que ia sofrer também, mas pelo menos a dor não duraria mais de 90 minutos...

4 comentários:

Filoxera disse...

Já estivemos a falar melhor...
Sporting? Ná!

(beijos; azuis!)

Mariazita disse...

Já estive cá à tarde mas encontrei a porta fechada :)

Muito obrigada pela amistosa recepção.

É mais que sabido que para se ir para um posto de saúde/hospital é preciso ter uma sáude de ferro.
Os doentes é melhor nem lá porem os pés!!!

Beijinhos
Mariazita

A OUTRA disse...

Então meu caro amigo, levanta o rabinho do Senhor Sofá e vai correu o País para saberes o que será por esse País fora.
Viste como estava esse Centro, agora multiplica por todos os Centros de Saúde.
E mais... em caso de a A1N1 atacar em força vê como ficará uma pessoa que tenha necessidade urgente de ser vista por um médico devido a sintomas preocupantes e a meter-se nessa confusão.
Ainda te digo mais... um doente com febre que não tenha ninguém a viver consigo, tem que se levantar da "caminha" às sete "de la matina" para arrajar consulta, para o médico de família ou não, para as dez ou onze horas.
É preciso muita saúde para aguentar tudo isto meu amigo!
Dorme bem
Maria

pin gente disse...

infelizmente não é caso único mas. felizmente, também há quem tenha amor à causa e faça horas extras.
abraço